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Enfermagem fortalece prevenção ao suicídio com acolhimento e escuta ativa

“Romper com a cultura do silêncio é uma das maiores armas contra o suicídio”, afirma a enfermeira Dorisdaia Carvalho de Humerez, porta-voz do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e mestre em enfermagem psiquiátrica. No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, celebrado em 10 de setembro, a especialista reforça a relevância da categoria na linha de frente da saúde mental e na escuta humanizada de quem sofre em silêncio. Vale lembrar que o período também marca a campanha Setembro Amarelo.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio está entre as principais causas de morte no planeta, com cerca de 700 mil vidas perdidas todos os anos. No Brasil, a estimativa é de 40 casos por dia. Os números revelam não apenas a gravidade do problema, mas também a urgência de ações estratégicas de prevenção, em especial aquelas lideradas pela enfermagem, presente em praticamente todos os cenários de cuidado.

De acordo com Dorisdaia, ainda persiste a ideia equivocada de que falar sobre suicídio aumenta o risco de que ele ocorra. Para ela, esse é um mito perigoso. “O silêncio é, na verdade, um estigma. Quando falamos sobre o que a pessoa sente, criamos um canal de comunicação e diminuímos o sofrimento emocional. Falar sobre suicídio não induz, mas sim permite acolher”, esclarece.

A especialista lembra que a atenção em saúde mental ainda é precária em todo o mundo, uma das áreas que menos recebe investimentos. A consequência é que a depressão, os transtornos de ansiedade e os transtornos bipolares se espalham como uma ‘epidemia silenciosa’, atingindo crianças, adolescentes, adultos e idosos.

O comportamento suicida também varia conforme o gênero. Dorisdaia destaca que os homens concretizam mais tentativas de suicídio, geralmente pelo uso de métodos mais agressivos, enquanto as mulheres apresentam mais ideação suicida. “Para cada homem que apresenta ideação, temos quatro mulheres”, aponta.

O olhar atento da enfermagem

Um dos papéis centrais do enfermeiro é reconhecer sinais de alerta, muitas vezes sutis, mas que podem significar um pedido de socorro. Entre eles estão frases como “a vida não vale a pena”, “sou um fardo” ou “queria dormir e não acordar mais”. “A desesperança é um dos sinais mais graves. O paciente deixa de acreditar em um projeto de vida para o futuro”, explica Dorisdaia.

Outros sinais incluem mudanças bruscas de humor, isolamento, abandono de atividades prazerosas, uso abusivo de álcool ou drogas, comportamentos de risco e até uma melhora repentina e inexplicável.

“Uma súbita felicidade, sem estar em tratamento, pode significar que a pessoa encontrou uma ‘saída’. E essa saída pode ser o suicídio. É um alerta crítico”, adverte. A especialista também ressalta que gestos como doar pertences, visitar familiares ou se despedir de amigos podem indicar que a pessoa está encerrando ciclos.

Intervenção humanizada: o que o enfermeiro pode fazer

Diante de um paciente em sofrimento intenso, o enfermeiro deve se colocar como apoio emocional seguro, utilizando empatia, escuta ativa e inteligência emocional.

“O enfermeiro precisa se apresentar disponível, reduzir o sofrimento, acolher a dor, aceitar o sofrimento do outro sem negá-lo. Muitas vezes, o cuidado se expressa mais em respostas não verbais, como um toque de apoio, do que em palavras”, detalha Dorisdaia.

Se o paciente fala sobre o suicídio, o profissional deve questionar de forma cuidadosa: há um plano? Existe uma data? O método está disponível? “Se a pessoa tem um plano organizado e viável, o risco é extremamente alto e exige intervenção imediata”, reforça.

Em alguns casos, o simples pedido de mais tempo pode fazer a diferença: “O enfermeiro pode dizer: ‘me ajude, fique comigo mais um dia, me ligue amanhã’. Esse vínculo pode dar novo sentido à vida da pessoa”.

Protocolos e singularidade

Embora existam protocolos para atendimento de pessoas com ideação suicida, Dorisdaia alerta que não há fórmula única. Cada indivíduo tem uma história particular e cada enfermeiro também carrega sua trajetória. “O atendimento é uma relação interpessoal intensa. O mais importante é a disponibilidade genuína do enfermeiro em querer ajudar”.

Ela lembra ainda que o enfermeiro não deve se ver como ‘salvador’ do paciente. “Nós não somos salvadores, somos apoio. Mesmo que, infelizmente, o suicídio ocorra, o profissional não deve se culpar. Cada um é dono da sua própria história. O papel do enfermeiro é oferecer presença e cuidado”.

Do fundo do poço à esperança

O impacto da enfermagem no enfrentamento ao suicídio é profundo. A escuta qualificada, a atenção aos sinais e a disponibilidade emocional podem fazer com que uma pessoa passe da desesperança para a esperança.

“A ajuda emocional oferecida pelo enfermeiro pode fazer alguém sair do fundo do poço e reencontrar sentido para a vida”, afirma Dorisdaia. Ela reforça que, por mais doloroso que seja o sofrimento, o instinto de vida é maior que o de morte. “Quando o paciente sente que tem apoio forte e contínuo, ele pode desejar viver novamente. O enfermeiro é peça-chave para que isso aconteça”.

Enfermagem como força de prevenção

No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, o protagonismo da enfermagem deve ser lembrado e valorizado. O contato diário com os pacientes coloca esses profissionais em posição estratégica para identificar riscos, oferecer acolhimento e encaminhar para redes de apoio.

A mensagem da especialista é clara: a enfermagem pode ser a diferença entre a vida e a morte. “A cada escuta atenta, a cada gesto de empatia, a cada vínculo construído, o enfermeiro ajuda a transformar silêncio em palavra, dor em acolhimento e desesperança em vida”.

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