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Em entrevista ao Instituto Enfermagem de Valor, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, a enfermeira obstetra, Heloisa Lessa, compartilha sua trajetória marcada pela dedicação à humanização do parto e pela defesa da autonomia da enfermagem no Brasil. Doutora em Enfermagem pela UFRJ, pioneira na assistência a partos domiciliares e reconhecida internacionalmente por sua atuação, Heloisa fala sobre os desafios da profissão, a evolução feminina na área e a importância do engajamento na luta por melhores condições de trabalho.
Instituto Enfermagem de Valor – Poderia compartilhar conosco o que a motivou a seguir a carreira de enfermagem e quais foram os principais desafios que enfrentou ao longo de sua trajetória profissional?
Heloisa Lessa – Decidi pela enfermagem quando entendi que gostava de cuidar das pessoas. Me apaixonei pela enfermagem quando aprendi, por exemplo, a fazer as dobras corretas em uma cama para que o paciente não fizesse aquelas escaras na pele, já que a cama bem-feita protegia a pele. Gosto da ciência do cuidar nos mínimos detalhes e de toda a importância na recuperação das pessoas.
O mais difícil sempre na enfermagem é o fato de ser uma profissão em que, numa escala hierárquica, ela está abaixo do médico. Esse não reconhecimento de que são ciências diferentes que se complementam e que não somos assistentes de médico é muito difícil. Vejam na pandemia, ficou clara a importância da enfermagem, mas isso não se traduziu num real reconhecimento. O piso da enfermagem e o número de horas ainda são uma batalha a ser travada pela classe.
A enfermeira, na sua grande maioria mulheres, enfrenta muitas negras num ambiente absolutamente patriarcal ….sofremos essa pressão cotidiana.
Instituto Enfermagem de Valor – Como a senhora enxerga a evolução feminina na enfermagem brasileira e quais avanços mais significativos ocorreram nos últimos anos?
Heloisa Lessa – A enfermagem sempre foi uma profissão feminina, de mulheres. Mulheres que cuidam.
A profissão vem crescendo. Hoje estamos crescendo em muitas áreas. Na obstetrícia a enfermagem deslanchou de 2000 para cá. A enfermeira volta à cena do parto nos hospitais, casas de parto e no parto domiciliar. A OMS preconiza a importância de a atenção ao parto de risco habitual ser conduzida por enfermeiras como uma maneira de reduzir intervenções desnecessárias, desmedicalizar e reduzir mortalidade materna e perinatal.
Apesar da resistência de setores atrasados da medicina, a enfermagem segue firme garantindo sua competência e autonomia no cuidado a saúde das mulheres.
Instituto Enfermagem de Valor – Em sua opinião, quais são as principais contribuições das enfermeiras para o sistema de saúde e para a sociedade como um todo?
Heloisa Lessa – A enfermagem compõe a maior categoria de profissionais que atuam no SUS. Da atenção básica ao CTI nós estamos lá. A enfermagem traz consigo o paradigma da humanização de um cuidado dentro do possível particularizado e humano. Uma assistência que vai da prevenção da saúde aos últimos dias nos cuidados paliativos.
A atuação da enfermagem nas consultas de saúde reprodutiva, incluindo a inserção do dispositivo de longa duração, tem permitido que um número muito maior de mulheres possa ter acesso a anticoncepção e ao planejamento familiar, reduzindo, assim, nossos índices de mortalidade materna e neonatal. Apesar de toda a luta, a enfermagem tem conquistado espaços legítimos de atuação.
Instituto Enfermagem de Valor – A senhora poderia nos contar sobre um momento marcante em sua carreira que exemplifique a força e a resiliência das mulheres na enfermagem?
Heloisa Lessa – Um momento marcante na minha trajetória foi, sem dúvida, o julgamento, pelo STJ, da Ação Civil Pública que o Cremerj movia contra minha pessoa e todas as enfermeiras obstétricas que atendem partos de forma autônoma. O STJ foi claro em dizer que enfermeiras obstétricas e obstetrizes podem, sim, atender à parturiente sem a presença do profissional médico nos casos de gestações de baixo risco. Esse foi o resultado de muita luta, de abaixo-assinado da Marcha pelo parto humanizado que ocorreu em 24 cidades brasileiras e de todo o apoio que recebemos do Cofen e Coren. Nos unimos e vencemos essa luta! Hoje, está claro que temos competência para realizar toda a assistência do pré-natal ao pós-parto de mulheres de risco habitual.
Instituto Enfermagem de Valor – Quais conselhos a senhora daria para as mulheres que estão iniciando na profissão e aspiram alcançar posições de destaque na área da saúde?
Heloisa Lessa – A profissão da enfermagem é linda, mas muito desvalorizada no Brasil, então, ser enfermeira inclui, além do nosso trabalho, uma participação ativa na sociedade, nas nossas associações e órgãos de classe. Ser enfermeira hoje exige dedicação e participação.
Escolha a enfermagem e sigamos juntas nessa luta pela valorização da nossa profissão e do SUS.
Quem é Heloisa Lessa
• Enfermeira obstetra e doutora em Enfermagem pela Escola de Enf. Anna Nery. UFRJ.
• Ativista pela Humanização do Parto e Nascimento.
• Pioneira na assistência a partos domiciliares no Rio de Janeiro (1989).
• Tem experiência de trabalho com as parteiras tradicionais e a população indígena brasileira.
• É internacionalmente conhecida tendo representado o Brasil em diversos eventos internacionais em especial no Congresso da Confederação Internacional de parteiras – ICM como palestrante principal, em Glasgow, Inglaterra em 2008.
• Realizadora de Congressos e eventos no Brasil e no mundo.
• É correspondente no Brasil para a Magazine Midwifery Today – USA.
• Faz parte do comitê revisor do International Journal of Childbirth – UK.
• Fundadora do Instituto Michel Odent, 2017.
• Fundadora da Equipe multidisciplinar Parto Ecológico de Assistência ao Parto no Rio de Janeiro em 2010.
• Coordena grupo de grávidas e pós-parto na Comunidade dos Prazeres e na Casa Colo desde 2018.
• Em 2018 ganhou o Prêmio Humans Rights in ChildBirth na categoria midwife, tendo sido indicada com a votação mais expressiva entre todas as categorias.
• Recebeu, em 2024, o Prêmio Mulheres que Inspiram e também Monção em reconhecimento ao trabalho na Marcha Nacional pelo Parto Humanizado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
• Membro da Câmara Tecnica de Saúde da Mulher do COFEN (2024).
Como se capacitar
O Instituto Enfermagem de Valor oferece a oportunidade ao aluno interessado em se aprofundar na carreira e em estar bem qualificado e se tornar um profissional mais completo em enfermagem no Brasil.
Conheças nossas pós-graduações:
• Trauma, Urgência, Emergência e Terapia Intensiva – técnicas utilizadas durante a assistência ao paciente de alto risco, como atender às necessidades neurológicas, respiratórios, cardiovasculares.
• Auditoria de Enfermagem em Serviços de Saúde – dinâmica na avaliação da prestação de serviços voltada para racionalização da assistência e redução dos custos sem comprometimento da qualidade.
• Responsabilidade Técnica, Auditoria e Gestão de Serviços da Enfermagem – programa é preconizado pela Resolução 685/2022 e normatiza a anotação de responsabilidade técnica por profissionais liberais, pessoa física ou jurídica.
• Gestão da Qualidade em Saúde e Segurança do Paciente – planejamento, organização e desenvolvimento de ações para promover a qualidade e a segurança dos assistidos na clínica ou no hospital.
• Enfermagem do Trabalho – atuação na área de Saúde do Trabalho dentro de instituições públicas e privadas.
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