Com baixa adesão nas UBS, inserção do DIU por enfermeiros ganha força como estratégia de saúde pública

Publicado em 26 de junho de 2025
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Censo nas Unidades Básicas de Saúde revelou que somente 19,7% realizam inserção do dispositivo intrauterino (DIU), contraceptivo altamente eficaz disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O difícil acesso ao método, usado por 4,4% das brasileiras de 15 a 49 anos, contribui para as altas taxas de gravidez não-planejada, que chegam a 55% no Brasil.

“Os enfermeiros são fundamentais para mudar esta realidade”, destaca Renné Costa, coordenador da Câmara Técnica de Enfermagem em Saúde da Mulher do Cofen. No Distrito Federal, o acesso ao DIU aumentou 147% com a inserção por enfermeiros. “Dados preliminares do Ministério da Saúde indica que, em 2024, enfermeiros brasileiros realizaram 23 mil atendimentos para inserção do DIU. Saímos de 1% para 4% do uso do DIU graças à inserção feita por enfermeiros. Isso evidencia a importância de dar autonomia aos enfermeiros para ampliar direitos sexuais e reprodutivos. Esse é um dos braços da Reforma Obstétrica que almejamos”, afirma Renné.

O dispositivo intrauterino com cobre (DIU T de Cobre 380 A) é um método contraceptivo reversível, não hormonal, de alta eficácia e baixo custo. Apresenta taxas de insucesso abaixo de 1%, enquanto os mais utilizados, como pílula ou preservativos, têm taxas de 8% a 12%, considerando o uso típico, sujeito a falha humana.

Mitos dificultam acesso ao DIU

É preciso desmistificar o DIU. “A desinformação influencia a tomada de decisão dos gestores, profissionais de Saúde e das próprias mulheres”, afirma Renée Costa.

  • DIU apresenta ótimo custo-benefício para os sistemas de Saúde, por sua longa duração
  • DIU de cobre não é abortivo. O dispositivo dificulta o encontro do espermatozóide com o óvulo, agindo, portanto, antes da fecundação
  • Mulheres que nunca tiveram filhos, inclusive adolescentes, podem utilizar o método
  • Não há necessidade de ultrassonografia para a inserção do DIU
  • DIU pode ser inserido no pós-parto ou pós-abortamento
  • inserção do DIU não é prerrogativa de ginecologistas, podendo ser realizada por médico ou enfermeiro capacitados

“A consulta de Enfermagem em Saúde Sexual e Reprodutiva se baseia na escuta atenta. O Cofen vem realizando, em parceria com os Conselhos Regionais e as Secretarias Municipais de Saúde, a capacitação de enfermeiros para a colocação do DIU”, explica Renné.

Para indicação do DIU, é preciso uma anamenese cuidadosa, identificando possíveis contraindicações, risco de gravidez, e adequação do método para a realidade da paciente. É necessário, ainda, exame pélvico para verificar se há inflamação do colo uterino, sendo dispensável, na maioria dos casos, colposcopia. O teste Beta-HCG não é um exame de rotina, mas deve ser realizado em caso de suspeita de gestação ou atraso menstrual.

Após a inserção do DIU, é recomenda consulta de retorno entre 30 e 40 dias. “Ultrassom não é o exame de primeira escolha para avaliação do posicionamento do DIU. A clínica é soberana e uma boa anamnese, seguida de bom exame físico, avaliação do tamanho do fio exposto, em uma consulta com avaliação integral da mulher, são normalmente suficientes. Ultrassonografia deve ser exceção e não regra”, explica Renné.

A atuação do enfermeiro no planejamento sexual e reprodutivo respalda pela Lei 7.498/86 e Decreto 94.406/1987, e normatizada pela Resolução Cofen 690/2022 e Nota Técnica MS  31/2023.