Alícia Krüger, do Ministério da Saúde, destaca a importância do enfermeiro, nas políticas públicas para a saúde da mulher

Publicado em 27 de maio de 2023
Po5mzffc

A farmacêutica, sanitarista e epidemiologista, Alícia Krüger, assumiu a Assessoria de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde do Ministério da Saúde (MS), em janeiro de 2023. A nova pasta do Ministério trabalha em conjunto com a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, e seu o objetivo é equiparar o acesso e o atendimento dentro dos sistemas de saúde. Alícia se tornou a primeira farmacêutica trans a atuar no Ministério da Saúde, trazendo consigo uma sólida formação acadêmica e experiência em políticas de saúde.

Alícia Krüger é graduada em Farmácia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Possui especialização em Farmácia Clínica e Hospitalar pela UNINTER e Gestão das Políticas de DST/aids, hepatites virais e tuberculose pela UFRN. É mestre em Saúde Coletiva, na área de farmacoepidemiologia pela UnB e doutoranda em Medicina – Endocrinologia e Metabologia pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP).

Além de sua bagagem educacional, Alícia atua no Conselho Federal de Farmácia (CFF) como coordenadora das pautas de cuidado farmacêutico e, também, é interlocutora do VigiAR-SUS, do Ministério da Saúde, no âmbito da Secretaria de Estado de Saúde do Paraná. Foi também consultora nacional da OPAS/OMS, pelo MS, e trabalhou como farmacêutica Clínica no Governo do Distrito Federal.

Em virtude do Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, em 28 de maio, Alícia concedeu uma entrevista exclusiva ao Enfermagem de Valor, em que discutiu a sua atuação no Ministério da Saúde e destacou a importância da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher como um direcionamento governamental para promover a saúde das mulheres em todas as fases de suas vidas. Ao longo da entrevista, Alícia fala sobre as ações e desafios enfrentados à frente da Assessoria de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde, bem como a importância da equipe de enfermagem no cuidado à saúde das mulheres e na redução da vulnerabilidade feminina.

 Enfermagem de Valor – Você acaba de assumir a recém-criada Assessoria de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde, no Ministério da Saúde. Quais são os seus principais desafios à frente do cargo?

 Alícia Krüger – Essa assessoria é inédita em âmbito do gabinete da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. É uma assessoria que trata de inclusão, diversidade e equidade. Nós trabalhamos, também, com a diversificação do público interno e com políticas públicas ligadas à vigilância em saúde.

Eu sempre digo que a vigilância é uma ferramenta maravilhosa para a promoção da equidade, desde na produção dos dados até mesmo na atuação da vigilância em saúde. Eu estou muito feliz em poder assumir essa função, a convite da secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, que é uma pessoa que eu admiro e tenho como espelho há muitos anos.

Enfermagem de Valor – Qual é o papel da enfermagem na saúde das mulheres?

A enfermagem desempenha um papel crucial na saúde das mulheres, especialmente na coleta de exames. O enfermeiro desempenha um papel essencial na implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Além disso, eles são fundamentais na realização de exames laboratoriais relacionados à saúde de mulheres cisgênero e transgênero, tanto no acompanhamento da gravidez quanto no monitoramento do uso de hormônios.

Enfermagem de Valor – Como você vê a atuação do enfermeiro na gestão da IST/aids, hepatites virais, tuberculose e outras enfermidades no Brasil?

 Alícia Krüger – Em relação à gestão das IST e das hepatites virais, o profissional de enfermagem tem, há muitos anos, um papel no cuidado das pessoas, na questão da vigilância com as notificações de uma maneira tão importante desses agravos, na prevenção e execução dos exames laboratoriais ou nos testes rápidos, e agora na utilização da PrEP e do PEP.

 Leia também: Enfermeira mulher: alta na carreira, baixa na liderança

 Enfermagem de Valor – Em 28 de maio é comemorado o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher. Como você considera as atuais políticas públicas do Ministério da Saúde ligadas a essas questões?

Alícia Krüger – Em relação à gestão das IST e das hepatites virais, o profissional de enfermagem tem, há muitos anos, um papel no cuidado das pessoas, na questão da vigilância com as notificações de uma maneira tão importante desses agravos, na prevenção e execução dos exames laboratoriais ou nos testes rápidos, e agora na utilização da PrEP e do PEP.

Enfermagem de Valor – Qual o papel do enfermeiro nas atuais políticas públicas do Ministério da Saúde para a saúde da mulher?

 Alícia Krüger – O enfermeiro desempenha um papel fundamental na implementação e execução dessas políticas. Como profissional de saúde, o enfermeiro está na linha de frente do atendimento às mulheres, sendo um elo essencial entre elas e os serviços de saúde. O enfermeiro pode fornecer cuidados diretos, incluindo serviços de enfermagem ginecológica, aconselhamento, educação e orientação sobre saúde sexual e reprodutiva, além de atuar na coleta de dados relevantes para o planejamento e avaliação das políticas de saúde da mulher.

Além disso, o enfermeiro pode desempenhar um papel crucial na identificação e encaminhamento de mulheres que vivenciam violência de gênero, garantindo que elas recebam o suporte adequado e os cuidados necessários. Sua presença nas equipes de saúde é fundamental para garantir uma abordagem holística e centrada na mulher, que leve em consideração suas necessidades individuais, respeite sua autonomia e promova a equidade de gênero.

 Enfermagem de Valor – Como o enfermeiro pode desempenhar um papel efetivo na prevenção, promoção da saúde das mulheres, especialmente no que diz respeito à violência?

 Alícia Krüger – Eu acho que o profissional de enfermagem, junto com o poder público no geral, pode atuar na prevenção, promoção da saúde e também na recuperação de agravos que essas mulheres podem sofrer, mas, principalmente, em relação à violência.

Enfermagem de Valor – Quais ações o Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis (DAENT) realiza para promover a saúde das mulheres? E como os enfermeiros atuam dentro delas?

Alícia Krüger – Também cuidamos da saúde das mulheres no departamento de análise epidemiológica dos agravos não transmissíveis. Nós soltamos o primeiro grande boletim da nossa gestão no mês de março, falando sobre todo o ciclo de saúde da mulher no que tange a diferentes agravos não transmissíveis a violência, falamos das mulheres lésbicas, travestis e transsexuais em relação à violência também das mulheres no processo de maternagem e no processo também de infância, de meninas e mulheres no geral.

Nesse contexto, os enfermeiros atuam em diversas ações promovidas pela nossa secretaria para garantir o cuidado adequado à saúde feminina. Os enfermeiros desempenham funções importantes na análise epidemiológica, coleta de dados, identificação de padrões de saúde, além de contribuírem para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e controle de agravos não transmissíveis.

Enfermagem de Valor – Como o enfermeiro, nos serviços de saúde, pode proporcionar espaços acolhedores para as mulheres?

Alícia Krüger – Nós precisamos sempre fazer espaços acolhedores. E a atuação do enfermeiro nesses espaços é de extrema importância. É fundamental que os serviços de saúde ofereçam um ambiente de acolhimento, onde as mulheres se sintam confortáveis e seguras. Isso inclui não apenas o espaço físico, mas também a abordagem dos profissionais de saúde. E os enfermeiros têm um papel essencial na criação desses espaços pois possuem habilidades de comunicação e empatia que são fundamentais para estabelecer uma relação de confiança com as mulheres. Os enfermeiros podem proporcionar um cuidado centrado na pessoa, ouvindo atentamente suas necessidades e preocupações, e buscando soluções que respeitem suas particularidades e desejos.

Enfermagem de Valor – Quais são os fatores que contribuem para o adoecimento diferenciado das mulheres em relação aos homens e por que é importante cuidar da saúde mental delas? Como o papel do profissional enfermeiro é relevante nesse cuidado?

Alícia Krüger – As mulheres vivem mais do que os homens estatisticamente e epidemiologicamente falando, mas nós sabemos da vulnerabilidade que como bendito e não é tanto por fatores biológicos, pois, é muito difícil a gente ficar fazendo todas as inferências de causalidade, epidemiologicamente falando sobre fatores biológicos sem considerar os determinantes sociais em saúde.

Nós sabemos que as mulheres adoecem num padrão diferente de homens, algumas vezes por alguns fatores biológicos, mas em grande maioria das vezes, é pelo machismo que a sociedade impõe para elas, que muitas vezes tem que cuidar muito mais da família do que se de si mesma, o estresse do dia a dia e as violências domésticas e local de trabalho.

Tudo isso faz com que o adoecimento ocorra não só do ponto de vista físico, mas também do ponto de vista mental e a gente precisa cuidar dessas mulheres. O profissional enfermeiro é muito importante nesse cuidado também saúde mental. Nós não abordamos isso, mas o enfermeiro é um profissional que podemos contar nesta área.

Enfermagem de Valor – De que forma o enfermeiro pode contribuir para reduzir a vulnerabilidade das mulheres?

Alícia Krüger – O enfermeiro pode atuar em diferentes frentes para diminuir a vulnerabilidade das mulheres. O enfermeiro desempenha um papel fundamental na redução da vulnerabilidade das mulheres, por meio da educação em saúde, identificação e encaminhamento de situações de vulnerabilidade, trabalho em equipe, cuidado centrado na pessoa e promoção do empoderamento feminino. Sua atuação é essencial para garantir cuidados adequados, equidade e qualidade de vida para todas.